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"Existe mais filosofia em uma garrafa de vinho que em todos os livros." Louis Pasteur

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Reserva' e 'Reservado': parecidos no nome, muito diferentes na garrafa



Enquanto um denota qualidade, o outro é para vinhos de qualidade inferior.


'Uma verdadeira armadilha para leigos', diz distribuidor de Friburgo, no RJ.

Por Flavio Flarys e Laís Vargas
 

Reserva, Reservado… Que confusão! Afinal, qual a diferença entre estes dois termos tão parecidos no universo dos vinhos? Toda! As denominações, que parecem existir mais para confundir do que para simplificar, significam uma profunda diferença entre os tipos de vinho que estão nas garrafas. E para complicar ainda mais: cada país produtor tem a sua própria regra de denominação, com leis próprias - ou não - para cada especificação.
 
Vinhos 'Reservado' estão em praticamente todas as prateleiras de supermercados (Foto: Flavio Flarys / G1)

"Atualmente, os consumidores de vinhos leem mais sobre o assunto, procuram cursos e palestras e, além disso, têm aplicativos no próprio telefone que os ajudam na hora da compra. Uma dica muito válida é avaliar o produtor e, se não conhecer, ao menos ter um indicação de um profissional na área", sugere Brunno Guedes, sommelier e proprietário da loja especializada em vinhos Rótulos & Rolhas.Em uma pesquisa informal realizada pelo G1 com restaurantes de Nova Friburgo, Região Serrana do Rio de Janeiro, mais da metade - 6 de 10 estabelecimentos pesquisados - dispõem de vinhos "Reservado" na carta. Na maioria, os proprietários ou responsáveis pelos restaurantes não conheciam o significado do termo. Os restaurantes Empório do Dengo, Miditerrâneo, Jo Gourmet e Crescente não oferecem este tipo de vinho aos clientes.

"Não trabalho com vinhos 'Reservado'. Considero um equívoco classificar vinhos com este nome. É um termo criado por produtores, mas que não possui nenhum critério técnico", diz Ruan Rodrigues, enólogo e proprietário do restaurante Crescente, em Friburgo.

Denominações em rótulos de vinhos são, às vezes, muito complexas. Para ajudar na escolha de vinhos, serão enumerados exemplos de modelos de denominações em algumas regiões importantes. Confira: 



Velho Mundo



Nos vinhos do Velho Mundo, o cuidado na rotulação
dos vinhos é bem maior (Foto: Flavio Flarys / G1)

Em Piemonte, na Itália, para um vinho ser classificado como "Riserva" ele tem que ter, necessariamente, cinco anos de envelhecimento da bebida com, no mínimo, 36 meses em barricas de carvalho. Ou seja, um vinho da safra 2009 só estará disponível no mercado em 2014. Já em Chianti, na Toscana, um "Riserva" necessita de um envelhecimento de 27 meses e graduação alcoólica mínima de 12,5%.

Na Espanha, a legislação regula de outra forma: para o "Reserva", os vinhos necessitam um mínimo de 3 anos de descanso, sendo 1 em barril de madeira e 2 na própria garrafa. Os "Gran Reserva" descansam, no mínimo, 5 anos, sendo 2 em madeira. Todos os exemplos são para vinhos tintos.

Em Portugal, denominações como "Reserva", "Reserva Especial" ou expressões similares não têm determinações nas leis, mas quando produtores estampam estes títulos em seus rótulos, as bebidas são diferenciadas. Assim como na França, que utilizam as denominações "Cuvée" e "Reserve" para demonstrar uma bebida superior ou lote especial.

Novo Mundo


No Novo Mundo do vinho, que abrange as Américas, a Oceania e a África do Sul (e mais alguns pequenos produtores de países com menor expressão), não existe regulamentação - sequer bom senso, na maioria das vezes - referente ao uso do termo "Reserva". Há, na verdade, um entendimento que o termo deve ser usado em vinhos que passaram por algum tempo de estágio em madeira, e o "Gran Reserva" um tempo ainda maior. Para termos de comparação, um "Gran Reserva" argentino pode ter menos tempo em barril de madeira que o "Reserva" espanhol. Complicou? Pode piorar!

Site da vinícola Concha Y Toro sequer exibe o vinho 'Reservado' (Foto: Reproduçao / site da Internet)

O termo "Reservado", muito utilizado no Chile, significa um vinho simples, sem estágio em barricas de madeira, frutado, sem complexidade e normalmente considerado vinho "de entrada" (a linha mais barata da vinícola). Diversos vinhos "Reservado" não figuram nos sites da própria vinícola e sequer são vendidos onde são produzidos, pois são exportados para países onde o rótulo confunde potenciais consumidores, pois trata-se de um termo, no mínimo, impreciso.

"No Novo Mundo, o termo Reservado é destinado aos vinhos produzidos em grande escala, visando um apelo comercial e não de qualidade. A necessidade de aumentar as vendas nesses países criou uma classificação que para os leigos induz qualidade mas, na verdade, serve para ludibriar os consumidores", diz Brunno Guedes.


"Os vinhos Reservado são os vinhos de entrada e, consequente, os mais baratos. Os produtores não podem dizer que é o pior vinho, o mais ordinário, então eles chamam de Reservado. Como não há nenhuma legislação, qualquer vinho pode ser chamado assim. Normalmente, são exportados para o Brasil, Estados Unidos e Inglaterra. Essa denominação se aproveita da falta de conhecimento do consumidor. Uma verdadeira armadilha para leigos", diz Flamínio Spreafico, responsável pela carta de vinhos de alguns restaurantes de Nova Friburgo e proprietário da Box 3, distribuidora de vinhos na cidade.

Para simplificar: no Novo Mundo, para seguir uma ordem de classificação de qualidade dos vinhos, a lista se inicia com o "Reservado", depois vem o "Varietal" (vinhos também simples, com apenas um tipo de uva), o "Reserva", "Gran Reserva", "Edição Limitada", dentre outros. 


Original: http://g1.globo.com/rj/regiao-serrana/noticia/2014/04/reserva-e-reservado-parecidos-no-nome-muito-diferentes-na-garrafa.html

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