A bebida de Baco e suas emanações
Sentir os aromas é uma das etapas cruciais da degustação
Marcelo Copello
“...as pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar ao aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas” (O Perfume - Patrick Süskind).
Aroma de rosa |
Podemos dizer que o olfato é o “sentido perdido”, relegado a um ostracismo de séculos. Este atalho a sentimentos puros e profundos caiu em desuso pelo homem moderno. Um resgate dos cheiros, no entanto, tem acontecido nas últimas décadas, e o vinho é um dos agentes deste revigoramento de nossos narizes. A bebida de Baco é um elemento importante de filosofias contemporâneas como o hedonismo, o esoterismo e o culto à vida saudável.
Também se pode dizer que, com as modernas técnicas de elaboração e consumo da bebida (fermentação a frio, engarrafadoras automáticas, uso de leveduras selecionadas, maior higiene e esterilização das cantinas, movimentação no mosto por gravidade, novas técnicas de poda e condução das vinhas, adegas climatizadas, termômetros digitais, taças high-tech), os vinhos, especialmente os brancos, nunca foram tão perfumados como hoje.