Para quebrar a tradição de uma terra ruim de taça, produtora em Espírito Santo do Pinhal lança três rótulos de alta qualidade
Embora tenha sido fundada há apenas oito anos, a Guaspari já coleciona até elogios internacionais. Em 2013, o renomado crítico inglês Steven Spurrier conheceu um dos tintos paulistas num dos mais seletos encontros de produtores vinícolas realizados em Paris. Logo depois, referiu-se a ele como um “surpreendente syrah brasileiro” em um artigo da revista Sommelier. Outro especialista, o colunistado jornal Valor Econômico Jorge Lucki incluiu o Guaspari Syrah Vista da Serra 2011 em seu ranking anual dos Melhores Vinhos do Novo Mundo 2013.
Esse entusiasmo da crítica se justifica. Localizada a 200 quilômetros da capital, na bela região da Serra da Mantiqueira fronteiriça com Minas Gerais, a Guaspari tem 50 hectares de plantações distribuídos por duas centenárias fazendas de café, reunidas em uma única área de 800 hectares encravada em uma zona cafeeira, sem tradição vinícola. A cidade mais próxima onde se elabora a bebida fica a 70 quilômetros, mas do outro lado. É a mineira Caldas, conhecida pelos vinhos de garrafão. Embora já tenha essa primeira safra que arranca elogios dos especialistas — houve apenas duas vinificações anteriores sem valor comercial—, a produção começou por acaso. Os proprietários da dupla de fazendas, donos também da holding MSP Participações, que inclui empresas mineradoras e é dirigida pela CEO Marina Guaspari Gonçalves, queriam montar nos jardins da propriedade um labirinto com velhas videiras. Procuraram, em 2005, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) para adquirir as plantas e, no início do projeto paisagístico, perceberam que tinham um negócio de grande potencial nas mãos.
O diretor Paulo Guaspari (Foto: Arnaldo Lorençato )
A solução para o cultivo dos parreirais foi apresentada por um pesquisador da Epamig: Murillo de Albuquerque Regina. Dono da empresa Vitácea Brasil em parceria com um viveirista francês, Murillo multiplica mudas de videiras, a partir de clones importados da França. “A Vinícola Guaspari é um projeto arrojado, o maior investimento no sudeste brasileiro em vinhos”, garante o pesquisador. Ele conta que há iniciativas semelhantes mas bem mais tímidas surgindo em outras cidades paulistas, como Itobi, São Bento do Sapucaí, Indaiatuba e Louveira.
Hoje, existem doze vinhedos na Guaspari chamados de “vistas” com altitude entre 1140 e 1250 metros. “Quando começamos, realizamos exaustivos estudos de solo”, diz o diretor operacional Paulo Roberto Guaspari, tio de Marina. Nessas avaliações, constatou-se que o solo pedregoso se aproximava mais do encontrado na região do Rhône, no sul da França, onde reina a uva syrah. Vem daí a escolha dessa cepa. Ainda que se cultivem variedades europeias como cabernet sauvignon, cabernet franc, merlot e pinot noir, além de quatro brancas,a syrah é a que proporciona resultados superiores.
De grande ousadia, a Vinícola Guasparia adota um tipo de manejo adaptado por Murillo a partir de um modelo criado pela Epamig, também em Minas Gerais.“Os melhores vinhos do mundo são elaborados em regiões em que as uvas atingem a maturidade em dias ensolarados seguidos de noites frias”, ensina o pesquisador. Por isso, ele inverteu o período da safra, que tradicionalmente no Brasil acontece no verão. “Fazemos a colheita em julho, quando não há chuvas, que prejudicam a qualidade das uvas”, explica o enólogo-residente chileno Cristian Sepúlveda, responsável pelos vinhedos da Guaspari em parceria com o agrônomo português Paulo Macedo. Entre as atribuições da dupla está o controle da umidade do solo e momento da poda. “Cada hectare implantado tem um custo de 83 000 reais do primeiro ao quarto ano”, calcula Guaspari. Desde o início, a empresa já investiu mais de 4 milhões de reais, valor que inclui preparação do terreno, plantio, irrigação e compra de mudas. Também entra nesse total o salário de 55 funcionários, cinquenta deles no campo e cinco na adega.
O homem-chave na operação, porém, tem outro nome. Quem determina como será a vinificação e quando uma safra está pronta para ser colocada no mercado é o enólogo americano Gustavo Gonzalez, que traz no currículo passagens pela vinícola americana Robert Mondavi e pela italiana Tenuta dell’Ornellaia. Sob sua supervisão a colheita se realiza de maneira manual nas primeiras horas da manhã. Depois que o suco extraído das uvas é colocado em tanques de inox para a fermentação, a bebida resultante repousa em barricas de carvalho francês dos renomados fabricantes Taransaud, François Frères e Ermitage. “Queremos produzir o melhor vinho brasileiro da história”, sonha Guaspari.
Por: Arnaldo Lorençato
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